"Enquanto o sono não vem, ponho-me a escrever, dialogar com estas teclas já tão íntimas de meus dedos...
Ponho-me a pensar em tudo e em todos, é muita gente, é muita coisa...tem horas que não cabe tudo no peito quiça na cabeça...
Sobrevoo a ilha das fantasias...é, aquela dos sonhos perdidos, das lembranças embaçadas, dos amores escondidos...
Tateio o presente com o mesmo receio de uma criança ao tocar algo novo, será real? Não vai quebrar? Não vou perder? É a velha história do gato escaldado...difícil acreditar que a água está fria...
Foi-se o tempo em que os caminhos eram muitos, as escolhas diversas e a problemática resumia-se no que decidir...não, não, hoje o caminho é pra frente, olhar pra trás é proibido e não há laterais ou desvios tampouco atalhos...e que venham rochas, pedras e pedregulhos, não há por onde escapar...
Volta e meia meu insano coração teima que há algo no passado que precisa ser resgatado...tão tolo! O passado morreu e dele só há cinzas que sujam minha mente de lembranças nem sempre palatáveis...
A razão? Essa creio estar adormecida, pois por vezes a ela recorro e não ouço nada, só sinto, mas de que adianta? O coração jás insano!
Difícil mesmo é perder quase tudo sem perder-se de si mesmo...eis aí tarefa hercúlea e apesar de crer que em mim e em todos habita um Deus e uma Deusa não detenho tamanha força...
Assisto nas reprises incessantes da memória as perdas sofridas e vejo ir com elas um pedaço de mim...como não se perder por completo? Ah! sim, existe o presente...
O presente nada mais é do que aquele trecho de rochas, pedras e todo o resto para o qual não existe meio termo a não ser crer no futuro...sim, porque a saga do tempo continua, uma única palavra abriga o infindável, o eterno...Futuro!
É pelo futuro que todos lutamos, respiramos, continuamos, trabalhamos...é por esse tal de futuro que minha adormecida razão ainda acorda de vez enquando pra me empurrar a prosseguir mesmo com o coração palpitando insanidade na dúbia vontade de parar, descansar, dizer: E então chegamos ao tal futuro?
É, enquanto o sono não vem, tudo vêm a mente, tudo transborda, emoção, ânimo, tristeza, criatividade, vem tudo junto num emaranhado impossível de desatar...alguns dão a isso o nome de insônia...eu concluo que se trata na verdade de excesso, excesso de pensamentos absortos, excesso de culpas e remorsos, saudades e piedades, sonhos inalcançáveis, mitos e verdades...não, não é insônia é Excesso!
E com excesso o que fazemos? Dispomos do que já não nos vale...conseguimos nos dispor das culpas, saudades e utopias desejáveis?
Pois é, eis então que a insônia, ops, excesso continua..."
(Artigo de 07/03/12)
O trabalho Enquanto o Sono não vem... de Sabrina Joicy Santos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
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