Nos vejo em margens diferentes do mesmo rio, um rio de violenta correnteza, ele já tomou muito de nós, antes mesmo de sabermos uma da outra - mas o rio é o mesmo, ele sempre esteve lá, levando muito do que amávamos em sua incontrolável correnteza...ainda que não admitamos, nós o tememos.
Indo contra leis que imputamos a nós mesmas, de proteção pessoal, de defesa, nós construímos uma ponte acima deste rio, eu de cá, você daí, fomos madeira por madeira superando medos, o maior deles aliás, o de cair neste Rio das Perdas...
Em 30 dias desafiando todas as nossas leis e algumas do universo, construímos uma ponte, muito singela, estreita, mas firme o bastante que pra pudéssemos transitar um pouco uma pelo mundo da outra e voltar a salvo pra sua respectiva margem, tudo parecia bem...
Mas vieram tempestades que não prevíamos, ventos devastadores, não estávamos preparadas pra isso, nossa singela ponte de madeira não foi feita pra suportar tais tormentas e tempestade após tempestade ela começou a ruir...as madeiras foram rachando, as vigas caindo uma a uma e só tivemos tempo de correr cada uma pra sua margem, sua zona de conforto e segurança...olhamos pra trás e o rio, o famigerado e temido rio, levou tudo que construímos...nossa ponte já não existia mais.
Engraçado não termos hoje mais o mesmo ímpeto pra construir outra ponte, melhor e mais forte, agora que conhecemos a força dos furacões que passam pelo rio...o que será que nos enfraqueceu? Foi construir a ponte dia após dia lutando contra nossas próprias leis? Ou foram as tempestades que nos levaram ao cansaço?
O rio levou nossa ponte, mas quem nos levou pra longe realmente uma da outra? Não, dessa vez não podemos colocar a culpa no rio, ele levou um elo, mas não foi ele quem nos tirou a coragem e vontade de lutar pra reconstruir tudo...não, isso nem o Rio das Perdas poderia levar...foi outra coisa...
Fomos Nós!
Não é acaso um rio tão violento nos separar, esse rio onde muito já perdemos só leva o que deveria levar, apesar de implacável, ele é justo...ele é o desafio...
De longe você é (não sei se o tempo verbal no presente ainda é o correto, mas) a amiga mais oposta a mim, que já tive! Nossos princípios e valores são tão diferentes, tem semelhanças em linhas gerais, mas é nas minúcias que se notam as diferenças mais gritantes. Se fosse pra ser fácil não teríamos um rio assim a fazer a divisão, seria uma lagoa razinha no máximo e não um canal tão turbulento e indecifrável quanto o Triângulo das Bermudas...
Funcionamos, agimos, pensamos, somos diferentes...paradoxalmente muito semelhantes em vários outros aspectos, mas inafortunadamente (sabes que adoro essa palavra) nos apegamos as diferenças e então o rio só fez seu papel, destruiu o que parecia firme na superfície mas tinha bases realmente frágeis.
Somos diferentes...eu não silencio, eu brado, eu não preciso de tempo, porque sempre o vi como um inimigo (o que não quer dizer que não aceitaria o seu tempo, apenas diz que eu ajo diferente), eu não acho que feridas cicatrizem no escuro com 15 'band-aids' por cima, feridas tem de ser expostas a luz, ao sol, só assim elas secam, fecham, curam...temos métodos de auto-cura certamente diferentes, mas eu certamente poderia respeitar seu método, se você tivesse me dado a chance de mostrar isso é claro, mas houve um pré-julgamento ai, onde você definiu que eu não daria o silêncio do qual você precisava...você viu? Eu acabei de ver, a ultima viga da ponte sendo levada pelo vento nesse instante!
Eu sei que também fui demais, no sentido de exacerbar tudo, sentir demais, falar demais, ser uma amiga ciumenta demais, ter medo demais, ser amiga demais, eu sei, eu sou assim e você é do jeito que é, décadas lhe forjaram assim (séculos, milênios), pois acredite, o mesmo tempo nessa ou nas demais existências também me forjaram assim, tal qual você...somos o que somos, apesar de prover da mesma argamassa, temos uma essência praticamente imutável, que busca se melhorar, evoluir sim, mas essência, alma, originalmente não se muda 100% nunca, se lapida, mas um cristal não deixa de ser cristal só porque foi lapidado não é? Ele continua sendo o que foi feito pra ser. E não se engane, eu já me odiei por ser quem sou, já questionei os Deuses por ser assim de tão difícil e intenso convívio pra algumas pessoas, mas eu sempre recebi a mesma resposta: Não se foge daquilo que se é! - Tenho certeza que você já passou por experiência semelhante e obteve praticamente a mesma resposta.
E agora, o que fazer então? Até há poucos segundos eu achei que não sabia ainda, mas na verdade é bem claro, como sempre, temos 2 caminhos, opções que certamente vão nos afetar e nos acompanhar pro resto de nossas vidas, seja qual for, mas ao menos temos opções...
1ª Tiramos forças do útero da Grande Mãe e abraçamos a causa, desafiamos nossos medos e os colocamos em seus devidos lugares, onde não possam nos afetar e lidamos com nossas diferenças de modo confiante uma na outra e finalmente colocamos as semelhanças em primeiro plano e Juntas reconstruímos essa ponte, de forma que nada a atinja e seguimos juntas na irmandade que nos foi revelada, OU
2ª Fingimos esquecer o que lembramos, o que vivemos, o que somos, damos prioridade as diferenças que separam e matamos as semelhanças que unem, olhamos uma última vez para o rio, viramos nossas costas e nos dirigimos cada qual adentro da densa floresta que cerceia o rio, tomamos direções opostas, rumo ao Nunca Mais, ao Adeus e seguimos, sozinhas, agindo exatamente como querem que ajamos, sabendo ainda que o Adeus é decreto pra esta e pras demais existências, porque ninguém une novamente quem não quer ser unido, nem os Deuses (pra você ver como seu futuro com ele ainda tem jeito, porque os Deuses se mostraram calorosamente receptivos a seu pedido, que é também o dele, ele só não aceita, ainda). Contudo, eu certamente não vou querer passar novamente pelo desafio de lutar por uma amizade que não quer minha luta e por isso a 2ª opção é tão séria, não se trata de chantagem, mas de realidade, geminianamente realista como é pense se eu piscianamente emotiva como sou vou aceitar passar por isso de novo? Nós sabemos a resposta, e certamente também não quero lhe causar dor e confusão em qualquer existência que seja, então...é um Adeus pra Sempre.
Nos deram opções, nos ajudarmos a aparar as arestas uma da outra, complementando a vida e não trazendo esse amargor ou tentarmos fingir uma amnésia e seguirmos sozinhas, fazendo o que uma plateia cheia espera que façamos, fazendo aquilo que juramos em quantas vidas mesmo não fazer mais? Isso mesmo, ou
Nos AJUDAMOS ou Nos ABANDONAMOS!
Sem mais,
Muriel!
O trabalho Em Margens opostas de um mesmo Rio... de Sabrina Joicy Santos foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Com base no trabalho disponível em http://diariosdaalma.blogspot.com.br/.
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